Baixar a guarda não é perder o controle sobre si

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Abrir-se emocionalmente não é sinal de fraqueza. Pelo contrário, é um gesto consciente de quem escolhe viver com mais verdade e presença.

Muita gente vive com medo de se mostrar, como se qualquer sinal de vulnerabilidade fosse abrir espaço para o descontrole. Como se baixar a guarda fosse perder a mão sobre a própria vida, abrir a porta para a dor, o abandono ou a rejeição. É um pensamento comum: se eu me proteger, estou no comando. Mas a verdade é que manter-se fechado o tempo inteiro cansa. E pior, isola. A autodefesa constante nos impede de viver relações verdadeiras, onde a presença emocional importa mais do que a perfeição.

Baixar a guarda não significa se perder, se anular ou entregar o próprio poder nas mãos do outro. Significa apenas dar um passo consciente em direção à conexão. É reconhecer que não precisamos estar sempre no controle para sermos respeitados. É aceitar que sentir é humano, e que permitir-se sentir junto com alguém é uma das formas mais bonitas de viver. O controle absoluto que tanto buscamos é, na verdade, uma ilusão. E é quando conseguimos soltar esse controle que nos tornamos mais livres, mais inteiros, mais verdadeiros.

Confiança não se constrói com rigidez

Quando acreditamos que precisamos ser sempre firmes, impenetráveis e certeiros, acabamos criando barreiras que impedem a troca afetiva. A relação se transforma num jogo de estratégias, e não em um espaço de acolhimento. É como se a cada conversa fosse preciso provar que estamos por cima, que não precisamos do outro, que estamos no domínio da situação. Mas vínculos reais não se sustentam com disputa. Eles crescem na base da confiança mútua, e confiança só se constrói com entrega.

Muitas vezes, manter-se no controle é só uma resposta ao medo. Medo de ser visto demais, de sentir demais, de se machucar. Então vamos acumulando justificativas, endurecendo a fala, escondendo as emoções, tentando manter tudo sob o nosso comando. E quando alguém tenta se aproximar, essa armadura afasta. O outro sente que não há espaço, que tudo é rígido demais, e acaba se afastando. E aí, confirmamos o medo: que não dá para confiar. Mas o afastamento não veio da entrega, veio do fechamento.

É preciso reconhecer quando o controle está ocupando um espaço que deveria ser de afeto. Quando a vontade de parecer forte está falando mais alto do que a vontade de ser compreendido. Baixar a guarda exige prática. Não acontece da noite para o dia. Mas é um movimento que pode começar aos poucos, em conversas mais honestas, em escutas mais presentes, em silêncios menos defensivos.

Força mesmo é saber onde se abrir

Existe um tipo de maturidade emocional que só vem quando aprendemos a escolher com quem podemos baixar a guarda. Não é sobre sair se abrindo com qualquer pessoa. É sobre identificar quem já mostrou, com atitudes, que pode sustentar esse espaço de intimidade. E a partir disso, ir se permitindo sentir mais, dizer mais, mostrar-se com mais verdade.

A ideia de que baixar a guarda é sinônimo de fraqueza está tão enraizada que muita gente se culpa quando sente algo mais profundo. Como se amar, sentir falta, se emocionar ou admitir medo fosse um retrocesso. Mas, na verdade, é o oposto. Quem consegue sentir e sustentar o que sente sem se anular ou culpar o outro, demonstra força. Uma força silenciosa, que não precisa provar nada, apenas se expressa com autenticidade.

É esse tipo de presença que transforma as relações. Quando deixamos de lutar contra nós mesmos, contra o que sentimos, e passamos a usar esse sentimento como ponte. Quando paramos de tentar vencer o outro e começamos a buscar entendê-lo. Isso não é perder o controle. Isso é aprender a usar o próprio afeto como bússola.

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