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Observar as próprias reações emocionais é o primeiro passo para deixar de viver no automático e se abrir para relações mais conscientes.
Todos nós temos mecanismos de defesa. São formas que o nosso corpo e mente encontram para nos proteger do sofrimento emocional. Eles surgem de forma automática, quase sempre inconsciente, e se instalam no nosso comportamento sem pedir permissão. O problema é que, com o tempo, eles deixam de ser proteção e viram prisão. Reagimos sem pensar, repetimos padrões, afastamos pessoas sem querer. Por isso, aprender a reconhecer os próprios mecanismos de defesa é um passo essencial para viver relações mais saudáveis, mais verdadeiras e menos guiadas pelo medo.
Esses mecanismos variam de pessoa para pessoa. Alguns se calam, outros gritam. Alguns fogem, outros controlam. Tem quem faça piada para não falar sério, quem mude de assunto para evitar conflitos, quem se afaste para não precisar explicar o que sente. A forma muda, mas a intenção é sempre a mesma: evitar a dor. Só que, ao evitar a dor, também se evita a possibilidade de cura, de conexão, de presença real. E isso se reflete diretamente na forma como nos relacionamos, com os outros e com nós mesmos.
Sinais que indicam que você está se defendendo
Nem sempre é fácil perceber quando estamos nos defendendo emocionalmente. Justamente porque esses comportamentos já viraram parte da rotina, eles se tornam invisíveis. Mas existem alguns sinais que podem ajudar a identificar esses momentos. Um deles é a rigidez. Quando não conseguimos escutar o outro sem nos sentirmos atacados, quando qualquer opinião contrária vira motivo para nos fechar, há um mecanismo de defesa em ação.
Outro sinal é o exagero emocional. Respostas desproporcionais a situações simples, como irritação excessiva, ressentimento recorrente ou necessidade constante de ter razão, muitas vezes indicam que algo antigo está sendo tocado. E, claro, o afastamento repentino também é um grande indicativo. Quando, diante de uma situação incômoda, a primeira reação é fugir, se calar ou sumir, é bem provável que esse comportamento esteja ligado a um movimento automático de proteção.
O mais importante nesse processo é não se julgar. Os mecanismos de defesa foram úteis em algum momento. Eles nos ajudaram a lidar com situações difíceis, a sobreviver emocionalmente. O problema é que o que serviu lá atrás pode estar nos atrapalhando agora. E quando seguimos reagindo com base no passado, deixamos de viver o presente com liberdade.
Do automático ao consciente: o caminho da observação
Reconhecer um mecanismo de defesa não significa eliminá-lo de imediato. Significa perceber que ele existe. Que ele entra em cena toda vez que algo nos ameaça emocionalmente. E essa percepção, por si só, já é transformadora. Quando conseguimos dar um nome àquilo que sentimos, abrimos espaço para escolher como agir. Saímos do modo automático e entramos no campo da consciência.
Esse processo exige prática. É preciso aprender a se observar com mais cuidado. Prestar atenção nas sensações físicas, nos gatilhos emocionais, nas reações que se repetem. Às vezes, uma simples pergunta já pode ajudar: “O que estou tentando evitar com essa reação?” ou “Essa atitude está protegendo ou afastando alguém que eu gostaria de ter por perto?”. São perguntas simples, mas que abrem espaço para respostas profundas.
Com o tempo, passamos a reconhecer nossos padrões e conseguimos criar novas formas de lidar com o desconforto. Ao invés de fugir, conversar. Ao invés de gritar, respirar. Ao invés de se calar, nomear o que se sente. Não é fácil, nem rápido. Mas é possível. E cada pequeno passo nesse sentido fortalece a nossa capacidade de estar presente de forma mais honesta nas relações.
No fundo, reconhecer os próprios mecanismos de defesa é uma forma de acolhimento. É dizer para si mesmo: eu entendo porque reajo assim, mas posso escolher diferente. E é nessa escolha que começa a transformação real, aquela que nos permite viver com mais leveza, mais conexão e mais verdade.