Desencaixe emocional não é síndrome do impostor

Entender a diferença entre desalinho e insegurança muda tudo

Existe um momento, especialmente em fases de mudança, em que tudo parece estar fora de lugar. Você começa algo novo, entra em um ambiente diferente, é desafiado por tarefas que ainda não domina totalmente. E, diante disso, sente que algo não encaixa. Que talvez você não seja suficiente, que talvez tenha feito algo errado, que talvez não esteja à altura da situação. É fácil, nessas horas, colocar esse sentimento na conta da famosa síndrome do impostor. Mas nem sempre é isso que está acontecendo.

O episódio trouxe uma reflexão importante sobre como o desencaixe pode aparecer mesmo em contextos saudáveis, mesmo em ambientes que nos acolhem. E esse desencaixe não tem, necessariamente, relação com a ideia de se sentir um impostor. O que acontece é que, quando somos colocados diante de algo novo, principalmente em áreas onde costumávamos ter domínio, é natural sentir um certo desequilíbrio. A familiaridade nos dá segurança, e quando ela desaparece, o chão parece escorregar. Mas isso não é um sintoma de insegurança profunda. É só uma resposta emocional a uma mudança real.

Insegurança e desencaixe não são a mesma coisa

A síndrome do impostor está ligada à sensação de que você não merece estar onde está. Que você é uma fraude e que, a qualquer momento, alguém vai descobrir. É um sentimento construído sobre medo, sobre comparação, sobre dúvida profunda de si mesmo. O desencaixe emocional, por outro lado, é mais direto. É quando algo que você vive não te representa mais. Ou quando você entra em um novo lugar e ainda não sabe como se mover dentro dele. Não há, necessariamente, dúvida sobre a sua capacidade. Há só uma percepção de que o encaixe ainda não aconteceu.

No transcript, essa diferença apareceu com clareza quando foi dito que o desconforto não vinha do medo de não ser bom o suficiente. Vinha do fato de que o contexto mudou, e o tempo de adaptação ainda estava em curso. Essa é uma distinção fundamental. Porque enquanto a síndrome do impostor mina a autoestima e paralisa, o desencaixe só pede paciência. É como estar com o sapato certo, mas em um caminho novo. Você não duvida do sapato, só precisa entender o terreno.

Você não precisa saber tudo agora e tudo bem

Quando estamos diante do novo, é comum a mente tentar nos convencer de que já deveríamos saber tudo. Que a curva de aprendizado deveria ser mais rápida, que a adaptação já deveria ter acontecido. Mas a verdade é que nenhum encaixe acontece por obrigação. Ele se constrói. E durante esse processo, o desconforto é natural. O erro está em interpretar esse desconforto como incapacidade. Ele não é um sinal de que algo está errado com você. Ele é um reflexo de que você está se movendo. Está fora da zona conhecida, e isso, por si só, já exige muito.

O desencaixe pode ser um espaço fértil para o crescimento. Ele obriga a revisar expectativas, a cultivar paciência, a sustentar o incômodo sem tentar resolvê-lo à força. Ele ensina a diferença entre não estar pronto e não estar errado. E talvez o maior ganho dessa distinção seja justamente esse: perceber que sentir-se estranho em algo novo não é sinal de fraqueza. É só o primeiro passo de qualquer processo de adaptação.

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