Enxergar o todo: quando focar demais no problema cansa

O desencaixe parece maior quando você olha só para ele

Tem momentos em que o incômodo é tão insistente que a gente não consegue pensar em outra coisa. É como se a peça fora do lugar tomasse conta da imagem inteira. Você tenta seguir o dia, mas o pensamento volta sempre para aquele mesmo ponto. É ali que algo está errado. E tudo começa a girar em torno disso. O foco se estreita, a respiração fica mais curta, o corpo se retrai. Você começa a se confundir com o próprio desconforto. Como se não existisse mais nada além dele. E isso, por mais compreensível que seja, nos faz perder a perspectiva.

No episódio, isso ficou claro na metáfora do quebra-cabeça. Quando estamos com o rosto muito colado na parte que desencaixou, perdemos a visão do todo. A peça errada vira o centro de tudo. Mas basta afastar um pouco, olhar de cima, e a imagem maior aparece de novo. A peça continua fora do lugar, sim, mas ela já não define tudo. E essa mudança de olhar é o que muitas vezes permite que a gente respire de novo.

A peça solta não é o quebra-cabeça inteiro

É importante lembrar que uma parte da vida estar desorganizada não significa que tudo esteja perdido. A mente tem uma tendência a generalizar. Se algo não está bem, então nada está bem. Se um vínculo está difícil, então talvez você esteja difícil. Se um projeto não anda, então talvez você seja incapaz. Mas essa leitura é injusta. Você pode estar passando por um momento confuso e, ao mesmo tempo, ser uma pessoa inteira, sensível, lúcida. Pode estar com uma peça solta e ainda assim ter dezenas de outras bem encaixadas.

Resgatar essa visão mais ampla exige tempo e intenção. Você pode começar com perguntas simples, do tipo: o que ainda está funcionando na minha vida? Onde eu me sinto presente? Que espaços continuam seguros para mim? Esses pontos não apagam o incômodo. Mas ajudam a lembrá-lo de que ele é só uma parte da história. E que você não precisa se definir apenas por ele.

Ampliar o olhar é o começo da reorganização

A partir do momento em que você deixa de olhar só para o que está fora do lugar, começa a perceber também o que pode ser mantido. E isso muda tudo. Porque em vez de agir pelo desespero, você age com consciência. Em vez de desmontar tudo, você escolhe o que precisa ser movido e o que pode permanecer. O desencaixe deixa de ser ameaça e vira sinal. Um sinal de que algo em você está mudando. E a mudança, mesmo desconfortável, é sempre uma possibilidade de reorganização.

Enxergar o todo não é ignorar o problema. É reconhecê-lo no tamanho certo. E esse gesto de ampliar o olhar, de se afastar um pouco da dor, permite que você retome o próprio centro. A vida não precisa estar toda resolvida para fazer sentido. Mas é preciso lembrar que você é mais do que a parte que está em crise. Sempre foi. E sempre será.

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