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Nem sempre o silêncio é paz. Muitas vezes, é um mecanismo de defesa que evita o confronto, mas também impede o encontro verdadeiro.
Nem sempre o silêncio é neutro. Muitas vezes, ele carrega mais peso do que qualquer palavra mal dita. Há quem se cale para evitar conflitos, quem se afaste para não lidar com o desconforto de um mal-entendido, quem suma esperando que o tempo resolva o que o diálogo poderia ter curado. Esse tipo de silêncio não é leve, não é quietude interior. É defesa. Uma forma de proteger-se da exposição, do embate, da vulnerabilidade. E ainda que funcione por um tempo, esse silêncio também cobra um preço alto: o distanciamento emocional.
A escolha de não falar pode até parecer maturidade, mas em muitos casos é medo. Medo de dizer algo errado, medo de não ser compreendido, medo de parecer frágil. Só que quando o não-dito se acumula, ele se transforma em ruído. A comunicação fica truncada, as relações perdem a espontaneidade, e a conexão vai sendo corroída pelo acúmulo de palavras que nunca foram ditas. Às vezes, estamos com raiva e dizemos que está tudo bem. Às vezes, sentimos falta e dizemos que preferimos ficar sozinhos. E assim, vamos criando uma distância cada vez maior entre o que sentimos e o que mostramos.
Quando o silêncio machuca mais do que a palavra
Para quem está do outro lado, o silêncio pode ser devastador. É como estar num quarto escuro tentando adivinhar onde está a porta. Quando não há resposta, tudo vira suposição. E a suposição, quando alimentada pelo medo ou pela insegurança, se transforma em ansiedade. A ausência de palavras abre espaço para as interpretações mais distorcidas, e o vínculo, aos poucos, vai sendo desfeito. O silêncio que deveria proteger, então, acaba se tornando uma forma de exclusão. Uma barreira invisível que diz: você não pode me alcançar.
É claro que há momentos em que o silêncio é necessário. Pausas são importantes. Reflexões também. Mas há uma diferença entre o silêncio que organiza e o silêncio que esconde. Entre o tempo que precisamos para processar algo e o tempo que usamos para evitar o contato. O silêncio defensivo não busca equilíbrio. Ele busca evitar o desconforto. E, ao fazer isso, também evita a possibilidade de transformação. Porque nenhuma relação se sustenta apenas no que é implícito. O vínculo real exige conversa, escuta e coragem de dizer o que está atravessando.
A coragem de quebrar o silêncio
Falar o que sentimos nem sempre é fácil. Às vezes, é constrangedor. Às vezes, parece inútil. Mas a verdade é que a fala cria pontes. E mesmo quando não resolve, ela aproxima. Dizer “eu não sei como lidar com isso”, “eu me sinto estranho quando você faz isso”, “eu fiquei com medo” é um ato de exposição, sim, mas também é um gesto de confiança. É como abrir uma fresta para que o outro nos veja de verdade. E, ao fazer isso, damos a chance de sermos vistos com mais empatia.
O silêncio é confortável quando o que está em jogo é o ego. Mas quando o que está em jogo é o afeto, é preciso se arriscar. Falar é um risco. Escutar também. Mas são riscos que valem a pena. Porque é no diálogo que moram os acordos, as reconciliações, os recomeços. Ficar em silêncio pode parecer mais seguro, mas no longo prazo nos leva a viver relações superficiais, onde o que se sente nunca encontra espaço para ser expressado. E viver assim é viver com o peso de tudo o que não foi dito.
Não se trata de falar tudo, o tempo todo. Mas de escolher, com honestidade, aquilo que não pode mais ser guardado. Aquilo que precisa ganhar voz para que a relação possa continuar sendo real. Porque, no fundo, o que mais queremos é ser compreendidos. E ninguém consegue ser compreendido se o outro não tiver acesso ao que realmente sentimos.