Pertencer não é forçar encaixe onde não faz sentido

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A diferença entre ser acolhido de verdade e se adaptar para agradar

Em algum momento da vida, quase todo mundo já tentou caber em um lugar que não era seu. Seja para manter uma amizade, agradar alguém, conseguir um espaço ou simplesmente não se sentir excluído. E o mais curioso é que, muitas vezes, nem percebemos que estamos fazendo isso. Vamos ajustando o tom da fala, o jeito de se vestir, os assuntos que comentamos, os silêncios que engolimos. Até que, sem perceber, nos perdemos da gente. Pertencimento virou sinônimo de esforço, quando na verdade ele deveria ser sinônimo de aceitação.

Tentar se encaixar à força é cansativo porque exige vigilância constante. Estamos sempre nos perguntando se fomos adequados, se agradamos, se fizemos certo. Não existe leveza, só tensão. E, aos poucos, esse esforço nos deixa emocionalmente esgotados. O corpo dá sinais: o sono fica agitado, o estômago aperta, a cabeça dói. A alma começa a gritar em silêncio. Porque por mais que o desejo de pertencimento seja legítimo, ele não pode vir à custa da própria essência.

Pertencer de verdade é sentir que podemos existir como somos. Sem performance, sem máscara, sem medo. É estar num lugar onde não precisamos negociar nossos valores para sermos aceitos. Onde há espaço para nossa luz e também para nossa sombra. E isso, infelizmente, não acontece em qualquer lugar nem com qualquer pessoa.

O custo de tentar se encaixar o tempo todo

A ideia de que precisamos nos adaptar para sermos aceitos está profundamente enraizada em nós. Desde a infância, ouvimos que temos que nos comportar, ser educados, agradar os adultos, não causar problema. Na adolescência, queremos ser aceitos pelo grupo. Na vida adulta, tentamos nos encaixar em ambientes profissionais, sociais, familiares. E, muitas vezes, nos adaptamos tanto que já não sabemos mais o que é espontâneo e o que é moldado.

Essa adaptação constante cobra um preço alto. Primeiro, porque nos desconectamos das nossas necessidades reais. Quando estamos focados em ser o que esperam de nós, deixamos de escutar o que de fato sentimos, desejamos ou acreditamos. Segundo, porque isso fragiliza a autoestima. Se só somos aceitos quando estamos fingindo ser outra coisa, que mensagem estamos passando para nós mesmos?

Aos poucos, esse movimento de autoabandono vai gerando um vazio difícil de preencher. A pessoa pode até estar cercada de gente, mas se sente sozinha. Pode estar incluída em vários grupos, mas não se sente pertencente a nenhum. E é aí que percebemos: o verdadeiro pertencimento não vem de fora começa dentro.

Pertencer é ser aceito, não tolerado

Muita gente confunde tolerância com aceitação. Mas há uma diferença enorme entre ser “tolerado” e ser realmente acolhido. Quando somos tolerados, há sempre uma condição. Algo que precisa ser contido, ajustado ou silenciado para que o outro não se incomode. Já o acolhimento verdadeiro não exige edição. Ele reconhece, valida e respeita. E essa experiência é profundamente transformadora.

Estar em um ambiente onde podemos ser autênticos, onde somos ouvidos e levados a sério, muda tudo. O corpo relaxa. A mente desacelera. A conexão se torna real. E, mais importante, começamos a reconstruir uma relação saudável com nós mesmos. Passamos a confiar na nossa percepção, a valorizar o que sentimos, a proteger o que somos.

Por isso, é tão importante aprender a identificar onde estamos tentando forçar pertencimento. Se você precisa se anular para fazer parte, talvez esse lugar não mereça a sua presença. Se você sai esgotado depois de cada encontro, talvez esteja insistindo em algo que não te acolhe. Se você tem medo de se mostrar como é, talvez esse grupo não seja seu.

Escolher onde pertencer é um ato de coragem

Nem sempre é fácil se afastar de espaços onde não há acolhimento. Muitas vezes, estamos emocionalmente ligados, temos memórias, histórias e até afeto envolvido. Mas permanecer em lugares que exigem nossa versão editada é uma forma silenciosa de autoabandono. E ninguém deveria viver assim.

Escolher onde pertencer é escolher onde podemos florescer. Onde há escuta, respeito e espaço para crescer. E isso exige coragem. Coragem para sair de onde não nos vemos mais. Coragem para ficar sozinhos por um tempo, se for preciso. Coragem para buscar e construir novos lugares mais alinhados com quem somos hoje.

Pertencer de verdade não tem a ver com quantidade, mas com qualidade. Às vezes, uma única pessoa pode nos dar mais pertencimento do que um grupo inteiro. Porque pertencimento não é sobre estar incluído. É sobre estar inteiro.

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