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O sentimento de inadequação que muitos carregam em silêncio
Sentir-se diferente, deslocado ou fora de lugar é uma experiência mais comum do que parece. Muitas vezes, entramos em ambientes esperando encontrar acolhimento, mas tudo o que sentimos é que não fazemos parte daquilo. Essa sensação pode surgir em situações simples, como uma roda de conversa em que ninguém parece escutar o que temos a dizer, ou em momentos mais profundos, como quando percebemos que passamos anos tentando nos moldar ao que esperavam de nós. A vontade de pertencimento é humana, mas o caminho até ele nem sempre é simples.
Quando olhamos para trás, percebemos quantas vezes tentamos nos encaixar em grupos que não tinham nada a ver com a gente. Talvez por medo de ficar sozinho, talvez por não acreditar que havia um espaço onde seríamos bem-vindos do jeito que somos. Esse esforço constante de adaptação desgasta, machuca e nos afasta de quem realmente somos. Em vez de conexões verdadeiras, criamos relações baseadas em esforço e não em afinidade.
O desejo de pertencer e o medo de ser excluído
Desde muito cedo, aprendemos que fazer parte de um grupo é essencial. Na infância, isso pode significar ser escolhido para brincar no recreio; na adolescência, é estar incluído nas conversas e nas experiências sociais; na vida adulta, torna-se a busca por relações significativas, ambientes seguros e vínculos que nos nutram. O problema é que, muitas vezes, confundimos pertencimento com aceitação forçada.
Quando entramos em um grupo onde precisamos esconder partes de nós para sermos aceitos, o preço emocional é alto. Criamos máscaras, assumimos papéis e, aos poucos, nos afastamos da nossa essência. O pertencimento verdadeiro não exige esforço para ser conquistado ele acontece quando estamos entre pessoas que nos reconhecem como somos e, mais do que isso, nos valorizam por isso.
Em alguns momentos da vida, é natural nos sentirmos diferentes. Essa diferença pode ser real, como valores, crenças, experiências ou interesses distintos. Mas pode também ser resultado de um ambiente que não é acolhedor, que cobra adequação em vez de escuta, que quer moldar em vez de conhecer. E é aí que surge o conflito: será que o problema está em mim ou no espaço em que estou tentando me encaixar?
Quando a diferença se torna sofrimento
O desconforto de se sentir deslocado pode crescer e se transformar em sofrimento emocional. Muitas pessoas internalizam a rejeição que sentem e começam a acreditar que há algo de errado com elas. Isso mina a autoestima, enfraquece a confiança e reforça a ideia de que é preciso mudar para ser aceito. Só que, nesse processo, perdemos algo essencial: a nossa identidade.
Esse tipo de dor não é leve. Não se trata apenas de não ser incluído em uma conversa, mas de passar a vida tentando se encaixar em moldes que foram feitos para outras pessoas. É como usar um sapato apertado todos os dias: no início, a gente suporta. Mas com o tempo, começa a doer, e essa dor vira ferida.
A cura começa quando paramos de tentar caber em espaços pequenos demais para quem somos. Quando entendemos que não é sobre ser aceito por todos, mas sobre encontrar quem realmente nos vê. E isso exige coragem. Coragem para dizer “não pertenço a esse lugar”, coragem para sair, coragem para procurar e criar os espaços certos.
Afinidade como resposta ao sentimento de exclusão
Uma das descobertas mais libertadoras é perceber que não estamos sozinhos. Quando começamos a nos conectar com pessoas que compartilham valores, modos de pensar e formas de viver parecidas com as nossas, tudo muda. As conversas fluem, o silêncio é confortável, o riso é espontâneo. E, principalmente, não sentimos mais que precisamos nos esforçar tanto para sermos vistos.
Pessoas parecidas não são iguais, mas têm algo em comum que vai além das palavras: elas se reconhecem. Há algo de intuitivo em como nos sentimos em casa perto de quem vibra na mesma frequência. E isso não é sobre bolhas ou exclusão. É sobre saúde emocional. É sobre escolher relações onde possamos descansar e não apenas resistir.
Muitos confundem afinidade com elitismo ou rejeição, mas a verdade é que afinidade é cuidado. É saber que não é possível, nem necessário, agradar todo mundo. É aceitar que cada pessoa tem seu círculo, seu ritmo, seu jeito e que está tudo bem se não estivermos em todos os lugares ao mesmo tempo. Estar onde faz sentido vale muito mais do que tentar pertencer a qualquer custo.