Por que atacamos quando queremos apenas nos proteger

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Entenda como o comportamento agressivo pode esconder medos profundos e o desejo inconsciente de se conectar sem se machucar.

Nem sempre a raiva é o que parece. Muitas vezes, ela é só a superfície. Por trás de uma fala dura, de uma resposta atravessada ou de um afastamento repentino, existe um mecanismo que tenta proteger algo mais frágil: o medo. Atacar o outro antes de ser atacado parece, para muita gente, uma forma de manter o controle. É como se agredir com palavras, ironias ou atitudes frias fosse uma armadura emocional. Só que esse comportamento, ao invés de proteger, afasta. E o mais doloroso é que, muitas vezes, o que está por trás desse ataque é o desejo sincero de se conectar.

O ataque como defesa é um comportamento muito comum em pessoas que já se machucaram em relações passadas. Quando a dor não foi acolhida, ela vira reação. E a reação, quando vira hábito, se disfarça de personalidade. A pessoa passa a se ver como alguém “difícil”, “frio”, “prático demais”, quando na verdade está apenas tentando sobreviver emocionalmente. Quem ataca nem sempre quer machucar. Muitas vezes, está apenas dizendo, de forma torta: “eu não sei como me proteger de outra maneira”.

A agressividade como escudo emocional

É importante entender que nem todo ataque é grito. Há agressividade no silêncio, no deboche, na piada sarcástica, na crítica disfarçada de conselho. Em todos esses comportamentos existe uma tentativa de criar distância. E a distância, nesse contexto, parece mais segura do que a aproximação. Se o outro não chega perto, não pode ferir. E se não pode ferir, então é mais fácil lidar. Esse é o raciocínio inconsciente de quem vive na defensiva por meio do ataque.

O problema é que essa lógica vai corroendo o vínculo. Quem está do outro lado sente a dureza, o julgamento, o desinteresse. E começa a se afastar. Quando isso acontece, a pessoa que ataca se vê confirmando, mais uma vez, a narrativa interna de que “ninguém fica”, de que “é melhor não confiar”, de que “as pessoas são de mentira”. E esse ciclo se repete. Mas o que muita gente não percebe é que o ataque não está protegendo, está sabotando. Está transformando o medo em um comportamento que machuca não só os outros, mas também a si mesmo.

Como interromper esse ciclo

Interromper esse ciclo começa por reconhecer o que está por trás da agressividade. É parar para se perguntar: o que eu estava sentindo antes de dizer aquilo? O que me fez responder de forma atravessada? O que em mim foi tocado quando o outro falou aquilo? Essas perguntas são fundamentais para sair do modo automático e entrar em contato com a emoção real. Na maioria das vezes, não é raiva. É tristeza, frustração, medo de não ser visto, de não ser importante, de ser deixado de lado.

Essa auto-observação é o primeiro passo. O segundo é tentar construir formas mais honestas de expressão. Dizer o que sente sem precisar ferir. Falar do incômodo sem atacar. Mostrar vulnerabilidade sem sentir que está se humilhando. Isso exige coragem, mas também exige prática. Afinal, quem passou a vida toda aprendendo a se proteger com agressividade, não vai mudar da noite para o dia. Mas pode começar, e cada começo já é um movimento de cura.

É fundamental também lembrar que quem ataca com frequência, geralmente, precisa de acolhimento. Isso não justifica comportamentos violentos, mas ajuda a compreender o que os motiva. E quando há disposição para olhar para isso, seja sozinho, em terapia ou em diálogo com o outro, abre-se uma nova possibilidade: a de viver relações onde não é preciso se defender o tempo todo. Onde o outro não é inimigo, mas parceiro. Onde não há guerra, mas espaço para construir algo de verdade.

No fim das contas, todo ataque revela uma fragilidade. E toda fragilidade, quando aceita, pode virar força. É nesse processo que nos tornamos mais humanos, mais conscientes e, principalmente, mais disponíveis para amar e ser amados de verdade.

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