Por que o medo de abandono nos persegue?

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Entender o medo de abandono é o primeiro passo para transformar nossas relações e reconstruir a confiança em nós mesmos.

Por que o medo de abandono nos persegue?

Existe um medo que atravessa silenciosamente muitas das nossas relações: o de ser deixado para trás. Ele não grita, mas pesa. E muitas vezes, molda quem somos sem que a gente perceba. O medo de abandono está presente nos silêncios, nas ausências, na forma como pedimos atenção ou evitamos conflitos. Ele vive disfarçado de ciúme, de necessidade de controle, de carência afetiva. E não importa quantos anos temos, nem quão “maduras” pareçam nossas relações: ele insiste em aparecer. Talvez porque tenha raízes profundas, muitas delas plantadas antes mesmo de sabermos falar sobre o que sentimos.

Durante o episódio, refletimos sobre o quanto esse medo acompanha nossa história. Ele pode se manifestar de forma sutil, como a insegurança em um relacionamento que parece estável, ou de maneira intensa, como a dificuldade de confiar em alguém mesmo quando tudo indica que há vínculo ali. O medo de abandono não se resolve apenas com presença física. Às vezes estamos rodeados de pessoas e ainda assim sentimos como se fôssemos ser deixados a qualquer momento. E é aí que começa a real complexidade do tema: o abandono nem sempre é um fato, muitas vezes é uma sensação que se instala e passa a comandar nossas reações.

Quando o abandono é uma sensação constante

Uma das ideias mais potentes que discutimos foi essa: o abandono pode não ser literal, mas ainda assim marcar profundamente. Não é preciso que alguém feche a porta ou diga que vai embora. Às vezes basta um olhar que não se sustenta, um silêncio diante da nossa dor, um sumiço emocional em momentos em que mais precisamos. São esses pequenos traços de ausência que vão acumulando uma sensação interna de que, a qualquer momento, seremos deixados. Isso pode gerar comportamentos que sabotam nossas próprias relações: passamos a antecipar rejeições, a testar o outro, a exigir provas de amor que nunca são suficientes.

Esse medo pode se transformar em um padrão emocional que repetimos de forma quase automática. Ele se infiltra em relações de amizade, em vínculos familiares e, principalmente, nos relacionamentos amorosos. Criamos defesas, ficamos hipervigilantes, queremos controlar o que é impossível controlar: o desejo do outro de ficar. E nessa tentativa de não sermos deixados, muitas vezes deixamos a nós mesmos. Fazemos concessões que nos machucam, engolimos palavras, passamos por cima de limites para segurar alguém que já está meio fora. O abandono, nesse sentido, não acontece quando o outro vai embora, mas quando a gente para de se ouvir para não correr o risco de perder o outro.

A origem do medo e a busca por validação

Grande parte desse medo tem origem em vivências precoces. Não estamos necessariamente falando de abandonos traumáticos ou grandes perdas, mas de pequenas negligências emocionais que deixaram marcas. Quando sentimos que nossas emoções não foram acolhidas, quando aprendemos que é preciso agradar para ser amado, quando fomos silenciados ao expressar dor tudo isso vai alimentando uma ideia de que talvez, se mostrarmos quem somos de verdade, seremos deixados. E então aprendemos a performar o que esperam de nós, tentando controlar a narrativa para garantir que fiquem. Só que isso tem um preço: a desconexão com a nossa própria verdade.

Durante a conversa, falamos sobre como esse padrão nos leva a buscar validação constante. Queremos sinais de que estamos seguros, de que o outro vai ficar. Mas quando isso vira uma necessidade sem fim, ficamos dependentes de algo que está sempre fora do nosso controle. O medo de abandono nos coloca num lugar de fragilidade constante, onde qualquer gesto pode ser interpretado como ameaça. E isso esgota não só as relações, mas também a nossa energia vital. Viver esperando ser deixado é uma forma de nunca estar inteiro onde se está.

Medo de abandono: um convite à escuta interna

Apesar da dor, o medo de abandono pode ser um ponto de partida importante. Ele nos convida a olhar para dentro, a identificar feridas que ainda não cicatrizaram, a questionar padrões que não nos servem mais. Em vez de tentar silenciar esse medo, talvez possamos aprender a escutá-lo. Ele tem algo a dizer sobre o que precisamos, sobre o que ainda dói, sobre o que ainda buscamos fora quando na verdade está faltando dentro. Reconhecer esse medo é um ato de coragem. E a partir dessa escuta, podemos começar a construir relações mais verdadeiras, onde o vínculo não dependa de controle, mas de presença.

Não se trata de eliminar o medo, mas de aprender a conviver com ele sem deixar que ele nos domine. Isso passa por cultivar vínculos seguros, desenvolver autoestima e, principalmente, resgatar o contato com aquilo que sentimos. Porque, no fundo, o medo de ser abandonado não fala apenas do outro ir embora, mas do nosso receio de não sermos suficientes. E isso só começa a mudar quando deixamos de nos abandonar.

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