Queremos conexão, mas temos medo de nos mostrar

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Existe um conflito silencioso entre o desejo de ser amado e o medo de se expor. Entender esse dilema é essencial para criar vínculos reais.

Existe algo curioso, e até um pouco triste, em como nos relacionamos: ao mesmo tempo em que desejamos profundamente conexão, carinho e acolhimento, fazemos de tudo para esconder quem realmente somos. Queremos que alguém nos veja, mas temos medo de sermos vistos. Queremos ser amados, mas temos receio de mostrar exatamente aquilo que somos porque e se, ao nos revelar, o outro se afastar? E se não formos suficientes? E se formos demais?

Esse dilema afeta quase todas as relações. No início, mostramos só o lado bonito, o que achamos que o outro vai gostar. Escondemos nossas dúvidas, nossas inseguranças, nossos exageros. Vamos moldando nossa presença para caber no desejo alheio. E o resultado disso é que a conexão que se forma não é com quem realmente somos, mas com a versão que criamos. O medo de se expor cria uma barreira invisível que, mesmo sem perceber, nos impede de viver o vínculo em sua profundidade.

Quando o medo fala mais alto que o desejo

Muitas vezes, já fomos feridos antes. Já nos abrimos e não fomos acolhidos. Já dissemos algo íntimo e recebemos um silêncio. E isso deixa marcas. O corpo lembra. A mente tenta proteger. E então, quando uma nova relação aparece, a reação não é entrega, é cautela. Queremos nos aproximar, mas algo segura. Começamos a testar o outro, a observar, a esconder detalhes, a disfarçar sentimentos. E tudo isso parece prudente, mas também vai minando a espontaneidade.

O medo de se expor é também o medo de ser julgado. De ser rejeitado por mostrar fraquezas, por sentir demais, por ter desejos que nem sempre se encaixam na norma. E enquanto esse medo estiver no comando, a intimidade não acontece. Podemos até conversar, conviver, estar juntos, mas sempre com um pé atrás. E estar com um pé atrás é como tentar abraçar com os braços pela metade o outro sente que algo está retido, mesmo que não consiga nomear o que é.

Esse conflito interno entre querer se conectar e temer se revelar não é sinal de fraqueza. É sinal de humanidade. Mas quando não olhamos para ele de frente, acabamos vivendo relações frustrantes. Queremos mais, mas não sabemos como pedir. Queremos ser compreendidos, mas não damos acesso. E ficamos presos nesse ciclo de desejar intimidade, mas evitar exposição, o que nos mantém sempre na superfície.

O risco de ser verdadeiro

Estar em uma relação verdadeira exige um risco: o de mostrar o que se sente, o que se pensa, o que se teme. E esse risco dá medo, claro. Porque a vulnerabilidade é incômoda. Mas é também a única ponte possível para a conexão real. Quando mostramos nossa verdade, criamos um espaço onde o outro também pode se mostrar. E é nesse espaço que nascem os vínculos mais fortes, aqueles que sustentam crises, distâncias e desacordos porque não se baseiam em imagem, mas em presença.

Expor-se emocionalmente não significa contar tudo o tempo todo, nem se entregar sem critério. Significa, sobretudo, parar de esconder aquilo que é essencial. Significa assumir que também sentimos medo, insegurança, ciúme, carinho. Que temos dúvidas, que às vezes precisamos mais do que gostaríamos de admitir. Quando conseguimos dizer essas coisas, mesmo com a voz trêmula, abrimos espaço para relações mais humanas, mais imperfeitas e, por isso mesmo, mais verdadeiras.

É nesse ponto que o desejo de conexão encontra coragem. Não é sobre eliminar o medo, mas escolher não ser guiado por ele. É saber que podemos ser recusados, mas ainda assim preferir viver com inteireza. Porque o amor, seja ele qual for, não se sustenta apenas na atração ou na convivência. Ele precisa de confiança. E a confiança começa quando temos coragem de nos mostrar.

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