Sinais de que o medo de abandono está sabotando seus vínculos

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Às vezes o abandono não vem de fora, mas das defesas que criamos por medo de sermos deixados.

Sinais de que o medo de abandono está sabotando seus vínculos

Muitas vezes, achamos que o abandono é algo que vem de fora. Que alguém precisa ir embora, nos deixar de lado, cortar o vínculo. Mas o episódio deixou claro que nem sempre é assim. Às vezes, o abandono começa em nós: no medo que carregamos de sermos deixados, nas defesas que criamos sem perceber, nas estratégias que usamos para evitar a dor de uma possível rejeição. E é justamente esse medo silencioso que, em muitos casos, começa a sabotar os nossos vínculos, sem que a gente tenha consciência disso.

Durante a conversa, exploramos como esse padrão pode se manifestar de forma quase imperceptível no início. Uma insegurança aqui, uma cobrança ali, uma necessidade de confirmação constante. Mas aos poucos, esses comportamentos vão minando a confiança no vínculo, criando desgaste e abrindo espaço para mal-entendidos, tensões e afastamentos. O medo de abandono não grita de forma direta, mas se infiltra em atitudes que parecem até protetoras, mas que, no fundo, geram exatamente aquilo que tentamos evitar: a ruptura, a distância, a solidão.

O ciúme disfarçado de cuidado e o controle travestido de zelo

Um dos sinais mais comuns de que o medo de abandono está ativo é o excesso de ciúmes. Não aquele ciúme pontual, que aparece quando há algo concreto, mas o tipo que se manifesta em situações onde não há ameaça real. A pessoa com medo de ser deixada passa a interpretar pequenos gestos como sinais de desinteresse. Um atraso vira rejeição, uma mensagem que demora a ser respondida é sinal de desamor. E a cada interpretação, cresce a ansiedade e a necessidade de confirmar que está tudo bem.

Esse tipo de dinâmica costuma gerar um movimento de controle. O que começa como uma tentativa de manter o vínculo, se transforma numa pressão que sufoca o outro. Queremos saber onde a pessoa está, com quem está falando, por que não agiu do jeito que esperávamos. Chamamos isso de zelo, de cuidado, mas na verdade estamos tentando garantir que o outro fique, não por confiança, mas por medo. E o problema é que esse controle, mesmo que sutil, gera um efeito contrário: desgasta o vínculo, afasta o outro e confirma o medo que tínhamos desde o começo.

Durante o episódio, falamos também sobre o quanto essa dinâmica pode acontecer mesmo quando o outro está claramente presente. Há pessoas que estão ao nosso lado, que dizem com todas as letras que amam, mas a gente continua com a sensação de que a qualquer momento tudo pode acabar. Isso não vem do presente, mas do passado. É uma ferida antiga falando mais alto que a realidade. E enquanto essa ferida não for reconhecida, qualquer relação vai parecer instável, mesmo quando está sólida.

A autossabotagem nas relações e a profecia que se cumpre

Outro sinal forte de que o medo de abandono está sabotando nossos vínculos é o comportamento de teste. Começamos a criar situações para ver se o outro realmente se importa. Testamos os limites, nos afastamos para ver se nos procuram, criamos pequenos conflitos para medir o afeto. No fundo, queremos ser confirmados, queremos ter certeza de que somos importantes. Mas esses testes, ao invés de fortalecer a relação, criam confusão e insegurança. E o outro começa a sentir que precisa provar seu afeto o tempo todo, o que também cansa e afasta.

Esse tipo de atitude é muitas vezes inconsciente. Não é sobre manipulação, mas sobre proteção. Se eu me sinto em risco, tento controlar o cenário. Só que, ao fazer isso, muitas vezes me torno a pessoa que quebra o vínculo que eu mesma queria preservar. E é aí que entra a chamada profecia autorrealizável: temo tanto ser deixado, que acabo agindo de formas que fazem o outro se afastar. E quando ele vai embora, confirmo minha crença: “tá vendo? No fim, todo mundo vai embora”. O medo cria a realidade que temia.

Durante a conversa, ficou muito claro como esse ciclo se repete com frequência. E como é difícil quebrar esse padrão sem consciência. Quando não sabemos de onde vem o medo, achamos que o problema está sempre no outro. Mas ao reconhecer que há um padrão nosso em jogo, abrimos espaço para agir diferente. Para respirar antes de reagir. Para conversar em vez de testar. Para confiar mesmo com medo. E isso muda tudo.

É possível amar sem medo, mas não sem dor

Não estamos falando de eliminar o medo completamente. Ele faz parte do humano. Sentir medo de perder alguém é natural. A questão é o que fazemos com esse medo. Se o escondemos, ele se transforma em sabotagem. Se o escutamos, ele pode se transformar em autoconhecimento. Foi esse o tom do episódio: não negamos a dor, mas também não deixamos que ela dite todas as regras. Amar com maturidade é aprender a ficar mesmo quando dá medo. É aceitar que não temos garantias, mas podemos ter presença, escuta, responsabilidade afetiva.

O medo de abandono só perde força quando paramos de fugir dele. Quando temos coragem de olhar para ele com sinceridade e reconhecer o quanto nos move. E, a partir disso, podemos começar a construir vínculos diferentes. Relações onde o outro não precise adivinhar nossas inseguranças, mas possa conhecê-las. Onde a gente não precise controlar, mas possa confiar. Onde não seja necessário provar o tempo todo que é amado, mas apenas sentir que está tudo bem em ser quem se é.

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