Como Viver em Grupos Sem Ser Engolido Pelos Mais Barulhentos

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A dinâmica das conversas em grupo e como manter trocas saudáveis

Estar em grupo é uma das experiências mais complexas e fascinantes que vivemos. Quem já se sentou numa roda grande de amigos ou família sabe como tudo pode virar uma confusão deliciosa, mas também como é fácil perder a voz no meio do barulho. Em toda mesa grande, existe aquele que domina a conversa, o que corta falas, o que faz piada o tempo todo, o que ouve calado, o que não acha espaço para abrir a boca. E, no meio disso tudo, surgem as dinâmicas invisíveis: quem se sente visto, quem se sente ignorado, quem vai sair dali mais leve, quem vai sair drenado.

Falar de convivência em grupos é falar de convivência com as diferenças. Existem pessoas que nasceram para brilhar em público, que não têm medo de ocupar espaço, que amam uma plateia, que sabem manter todos rindo e atentos. Existe também quem prefere ficar na borda, observando, deixando escapar uma ou outra frase, mas só quando sente que tem algo a acrescentar. Nenhum jeito é melhor ou pior. O problema nasce quando quem fala muito esquece que há mais gente na mesa. E quem fala pouco não encontra nem uma fresta para existir.

Quando a roda vira monólogo coletivo

Uma das coisas mais comuns em grupos grandes é a conversa se transformar numa disputa de quem fala mais alto. Um tema puxa o outro, as interrupções viram norma, e quem não sabe brigar pelo próprio espaço desaparece. É quase como se fosse necessário bater na mesa para ser ouvido. E quem não sabe bater na mesa acaba engolido, vai ficando invisível, mesmo estando ali.

Ninguém gosta de sentir que está sobrando. Ainda assim, é exatamente isso que acontece quando não há espaço para o equilíbrio. Para quem é mais quieto, mais reflexivo ou simplesmente tímido, essas interações podem ser cansativas e até frustrantes. É sair de um encontro com a sensação de que ninguém sabe quem você é de verdade, porque não teve chance de dizer nada.

A responsabilidade de quem fala muito

Na psicologia dos grupos, existe um ponto essencial: quem domina o espaço tem responsabilidade. Falar muito não é problema por si só, mas exige consciência. Quem toma a frente da conversa precisa perceber quando está exagerando. É olhar em volta, perceber quem está tentando dizer algo, quem levanta a mão, quem suspira, quem sorri, mas não consegue cortar o fluxo.

Existe uma habilidade que nem todo mundo desenvolve: abrir espaço. É perguntar de propósito para o mais quieto, é jogar o tema na direção de quem está calado, é frear a própria empolgação em nome de uma troca mais justa. Não é fácil, porque quem gosta de falar adora o ritmo, o riso, o palco. Mas sem esse cuidado, a roda deixa de ser troca e vira plateia.

Quem fala pouco também precisa existir

Do outro lado, existe a responsabilidade de quem quase não fala. É comum esperar que o outro abra o espaço, mas nem sempre isso vai acontecer. Em alguns grupos, brigar pelo espaço faz parte da dinâmica, mesmo que seja cansativo. É aprender a cortar, mesmo com voz trêmula. É arriscar interromper. É levantar a mão, colocar o corpo para frente, dar um sinal de “quero dizer algo também”. Isso não deveria ser necessário, mas em muitas rodas, é. E não fazer isso significa abrir mão de ser ouvido.

Claro que isso nem sempre é simples. Pessoas mais introspectivas ou inseguras podem precisar de um empurrão. Por isso, quem observa, quem cuida, quem tem mais intimidade, pode ajudar a puxar o outro para dentro. É um gesto pequeno, mas poderoso. Um “o que você acha?”, um “conta mais”, um “fala, estou curioso”. São convites que podem transformar a energia de uma mesa inteira.

Grupos que nutrem e grupos que drenam

Nem toda roda é para sempre. Às vezes, por mais que se tente, certos grupos não têm espaço para trocas verdadeiras. São encontros barulhentos, divertidos, mas onde todo mundo sai meio exausto. E tudo bem. Existem interações que servem só para isso mesmo: dar risada, contar histórias, não mergulhar em profundidade. O problema é quando a gente espera profundidade de quem não pode ou não quer oferecer.

Nesses casos, é preciso calibrar a expectativa. Não dá para exigir escuta atenta de quem está ali só para se exibir. Não dá para esperar perguntas de quem só quer contar as próprias vitórias. É menos sobre mudar o outro e mais sobre entender: esse grupo me nutre ou me drena? Vale a pena insistir na presença? Ou faz mais sentido guardar minha energia para quem realmente quer ouvir?

O equilíbrio mora no cuidado

Convívio em grupo é treino. É olhar, perceber, se observar também. É se perguntar: estou falando demais? Estou interrompendo sem perceber? Estou ignorando alguém? E também: estou me escondendo demais? Estou deixando de existir na conversa? Às vezes, basta uma pergunta sincera para mudar o rumo de uma interação inteira.

Quando todo mundo se percebe, o grupo funciona como um organismo vivo. Tem hora para rir alto, para interromper, para brincar. E tem hora para se calar, para ouvir quem quase nunca fala, para perguntar de verdade. Não é sobre deixar de ser quem é, mas sobre abrir espaço para o outro existir junto.

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