O não aprendido na infância: como as relações moldam os limites

Entenda como aprendemos a dizer ou evitar o não na infância e nas relações familiares e como isso influencia nossa capacidade de estabelecer limites.

O não nasce cedo: o papel da infância

Você já pensou como a gente aprende o que é o não? No episódio, nós conversamos sobre como o não começa lá atrás, na infância. Desde pequenos, ouvimos muitos nãos, dos pais, dos professores, das pessoas que cuidam da gente. E cada um desses nãos carrega uma mensagem. Tem o não que protege, o não que limita, o não que impede, o não que organiza. E tem também o não que controla, que silencia, que apaga.

A gente cresce escutando que não pode isso, não pode aquilo, não deve fazer de tal jeito. Esses nãos vão moldando nossa percepção do que é permitido, do que é esperado, do que cabe ou não cabe na nossa vida. E aos poucos, o não deixa de ser só uma palavra e vira um conjunto de regras invisíveis que orientam como nos comportamos.

Aprendendo a dizer não ou não dizer

Mas não é só o não que ouvimos que importa. Também aprendemos a dizer não ou, em muitos casos, a não dizer. Tem famílias em que negar é visto como falta de respeito. Tem casas em que ninguém aprende a colocar limite porque o limite sempre vem de fora. E aí, crescer significa não saber dizer não para os outros, porque nunca foi possível dizer não dentro de casa.

A gente falou sobre como isso afeta nossa autonomia. Se na infância o não era sempre proibido, ou sempre desrespeitado, ou nunca respeitado, como vamos aprender a usar o não na vida adulta? Como vamos estabelecer limites se nunca pudemos praticar?

As relações familiares e a construção do não

As relações familiares têm um papel enorme na construção do nosso não. Elas ensinam, muitas vezes sem palavras, o que é permitido recusar e o que deve ser aceito sem questionar. Quem cresceu num ambiente em que as vontades eram ignoradas pode ter dificuldade de reconhecer o próprio limite. Quem foi educado para sempre agradar pode sentir culpa só de pensar em negar.

Durante a conversa, percebemos que o não não nasce igual para todo mundo. Ele depende do contexto, da cultura, da forma como a família lida com autonomia e obediência. Em algumas casas, o não vira uma arma de controle. Em outras, o não simplesmente não existe, tudo é permitido, ou nada precisa ser negado. E em qualquer um desses extremos, fica difícil construir um não saudável e equilibrado.

O impacto desse aprendizado na vida adulta

O que a gente aprende na infância não fica lá atrás. Esse aprendizado vai com a gente. Na vida adulta, aparece quando não conseguimos dizer não no trabalho, quando aceitamos sobrecargas, quando não colocamos limite nas relações afetivas. Aparece na dificuldade de escolher por si mesmo, de priorizar as próprias necessidades, de se posicionar sem medo.

E o mais desafiador é que muitas vezes a gente nem percebe. O não aprendido na infância vira um padrão silencioso, que nos faz evitar o conflito, engolir o desconforto, aceitar o inaceitável. E só quando começamos a olhar para trás, para as histórias que moldaram nosso não, é que conseguimos entender de onde vem essa dificuldade.

Reaprendendo o não: um caminho possível

O mais bonito da nossa conversa foi perceber que é possível reaprender. Mesmo que o não da infância tenha sido proibido, ignorado ou desrespeitado, podemos construir um novo jeito de negar. Um não que vem do cuidado com a gente mesmo, que protege sem afastar, que limita sem machucar.

Reaprender a dizer não é, muitas vezes, reaprender a escutar o que sentimos. É dar valor às nossas vontades, aos nossos desconfortos, às nossas necessidades. É perceber que o não também é um espaço de liberdade, e que, ao usá-lo, não estamos rejeitando os outros, mas escolhendo a nós mesmos.

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