Por que sentimos ciúmes? O que esse sentimento revela sobre nós

Exploramos o ciúme nos relacionamentos e amizades, desde suas raízes emocionais até quando ele se torna tóxico e o que a psicoterapia pode ensinar sobre isso.

O que é o ciúme, afinal?

A gente costuma falar de ciúmes como se fosse uma coisa só, mas não é. O ciúme pode ser leve, uma pontada que passa, ou pode ser algo que toma conta, aperta o peito, vira briga, insegurança, controle. Durante uma conversa longa e cheia de histórias pessoais, entendemos que o ciúme é menos sobre o outro e mais sobre a gente mesmo. É sobre medo, sobre insegurança, sobre sentir que a gente não é suficiente.

Esse sentimento aparece nos relacionamentos amorosos, claro, mas também nas amizades, na convivência, no dia a dia. Quem nunca ficou chateado porque um amigo saiu com outra pessoa e nem comentou? Ou porque o parceiro demorou para responder uma mensagem? Parece bobo, mas toca em feridas antigas.

Ciúmes saudável vs ciúmes patológico

Existe uma diferença importante entre sentir ciúmes e viver pelo ciúme. O ciúmes saudável mostra que você se importa, que valoriza aquele vínculo, que não quer perder a conexão com alguém que é importante. Ele não controla, não sufoca, não acusa. Ele conversa, ele tenta entender.

Já o ciúmes patológico é um campo perigoso. Ele isola, exige, desconfia de tudo. Vira rotina de conferência de celular, senha, rede social. Vira cobrança, chantagem emocional, ameaça. Às vezes, isso se disfarça de “preocupação”, mas no fundo é só medo e posse. E pode ser muito destrutivo, tanto para quem sente, quanto para quem convive.

O ciúme fala de você, não do outro

Uma coisa que percebemos é que o ciúme costuma nascer de um lugar muito interno. Ele tem muito mais a ver com como a gente se vê do que com o que o outro faz. Quem sente que não é suficiente, que vai ser deixado para trás a qualquer momento, tende a ver perigo em tudo. Às vezes, qualquer gesto vira ameaça.

Esse sentimento de insuficiência, muitas vezes, tem raízes profundas. Vem da forma como fomos cuidados, da infância, dos primeiros vínculos. A teoria do apego ajuda muito a entender isso: a maneira como aprendemos a amar e ser amados define também o quanto a gente suporta estar vulnerável. E o ciúme é, no fundo, um medo da vulnerabilidade.

A romantização do ciúme e os perigos da cultura do controle

Tem um ponto delicado que precisamos comentar: como o ciúmes é romantizado na nossa cultura. Sabe aquele papo de “se tem ciúmes, é porque ama”? Ou aquelas cenas de novela em que o cara briga com outro por causa da mulher e todo mundo acha lindo? Pois é, isso só reforça a ideia de que amar é controlar. E não é.

Controlar o outro não é amor, é insegurança. Manipular, criar situações para provocar ciúmes, testar a pessoa, fazer joguinho… tudo isso é sinal de que a relação não está saudável. O ciúme não pode ser a base de um vínculo. Precisa haver confiança, espaço, autonomia. Amar alguém não significa sufocar.

Quando o ciúme nos afasta de nós mesmos

Um dos efeitos mais tristes do ciúme tóxico é que ele desconecta a gente da nossa própria individualidade. A gente passa a viver em função do outro, tentando adivinhar, evitar, prever, agradar. E quando o outro não está por perto, a sensação de vazio é enorme. Para alguns, isso pode virar tristeza profunda, insônia, até sintomas de depressão.

Por isso, é tão importante entender o que acontece quando ficamos sozinhos. A nossa presença deveria ser um lugar seguro e não um gatilho de solidão. Se a ausência do outro vira um buraco incontrolável, talvez seja hora de buscar ajuda e entender o que está acontecendo de verdade.

Ciúmes entre amigos também existe

Nem só de casal vive o ciúmes. Amizade também é terreno fértil para esses sentimentos. Às vezes, a gente sente que está sendo trocado, deixado de lado, esquecido. É comum e também pode doer. Mas aqui vale o mesmo princípio: se a amizade está firme, verdadeira, o diálogo resolve muita coisa.

Agora, se vira cobrança constante, disputa por atenção, competição por afeto… talvez seja o caso de repensar como essa amizade está sendo construída. Amizade saudável também dá espaço para o outro viver e confia que o vínculo vai continuar existindo mesmo que a rotina mude.

O que fazer quando o ciúmes machuca?

Sentir ciúmes não é fraqueza, não é sinal de imaturidade. É humano. O problema é quando ele começa a fazer mal para você ou para o outro. Nesses casos, a psicoterapia pode ser um caminho poderoso. Ela ajuda a entender a origem da insegurança, a trabalhar o medo de perda, a fortalecer o senso de valor próprio.

Olhar para o ciúmes com responsabilidade é um ato de coragem. É escolher crescer em vez de controlar. É aceitar que a gente não pode evitar todas as perdas, mas pode aprender a lidar com elas de forma mais consciente, mais amorosa e menos reativa.

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