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Desde cedo, aprendemos como devemos nos comportar, o que podemos dizer e quais espaços podemos ocupar. Para muitas pessoas, especialmente mulheres, esse aprendizado inclui uma mensagem implícita: falar demais pode incomodar, expressar opiniões pode gerar conflitos, e, às vezes, o melhor a fazer é se calar. Mas como esse condicionamento afeta a autoestima na vida adulta?
Neste artigo, exploramos como as experiências da infância moldam a relação com a própria voz e como é possível resgatar a autenticidade perdida ao longo dos anos.
O silenciamento na infância: como ele começa?
A forma como uma criança é incentivada (ou desencorajada) a se expressar influencia diretamente a maneira como ela percebe seu próprio valor. Se desde pequena a criança escuta frases como:
- “Não fale assim, fica feio para uma menina.”
- “Você está chamando muita atenção, se comporte.”
- “Deixa os adultos falarem primeiro.”
- “Criança não tem que dar opinião.”
Ela internaliza a ideia de que sua voz não é bem-vinda. Isso pode fazer com que, ao longo da vida, a pessoa se torne mais retraída, duvide de si mesma e tenha dificuldade em impor limites.
O silenciamento infantil não acontece apenas por meio de palavras diretas, mas também pela forma como os adultos reagem às emoções e opiniões das crianças. Se uma criança percebe que seus sentimentos são minimizados (“Não foi nada, para de drama”), que suas perguntas são ignoradas ou que ela precisa “ganhar” o direito de falar, ela pode crescer acreditando que suas ideias não têm importância.
Como a infância influencia a autoestima e a comunicação na vida adulta?
Os primeiros anos de vida formam a base para a construção da identidade e da autoestima. Crianças que crescem em ambientes onde sua voz é desvalorizada podem enfrentar dificuldades como:
- Medo de expressar opiniões: sentem que suas ideias não são relevantes ou que serão ridicularizadas se falarem.
- Dificuldade em impor limites: aprenderam que sua vontade deve ser colocada em segundo plano para evitar conflitos.
- Sentimento de inadequação: sempre questionam se o que pensam ou sentem é válido.
- Busca constante por aprovação: acostumadas a se moldar às expectativas dos outros para serem aceitas.
Com o tempo, essa insegurança pode se refletir nos relacionamentos amorosos, na vida profissional e até mesmo na forma como a pessoa se posiciona socialmente.
A relação entre gênero e silenciamento: por que meninas são mais afetadas?
Embora tanto meninos quanto meninas possam crescer em ambientes que limitam sua liberdade de expressão, a cultura patriarcal reforça ainda mais esse silenciamento no caso das mulheres. Desde pequenas, meninas são ensinadas a serem mais “comportadas”, enquanto os meninos são incentivados a serem ousados e assertivos.
Isso se reflete, por exemplo, no ambiente escolar, onde estudos mostram que professores tendem a interromper meninas com mais frequência do que meninos e a dar menos atenção às suas perguntas. No ambiente familiar, muitas meninas aprendem que discordar pode ser interpretado como desrespeito e que ser gentil e submissa as torna mais agradáveis.
Esse padrão segue na vida adulta, onde mulheres são frequentemente interrompidas em reuniões, têm suas ideias apropriadas por colegas homens e precisam provar repetidamente sua competência para serem levadas a sério.
Resgatando sua voz: como reconstruir a autoestima e a autoconfiança
Se você cresceu aprendendo a se calar, saiba que é possível resgatar sua voz e sua autenticidade. Aqui estão algumas maneiras de começar esse processo:
- Reflita sobre as crenças internalizadas: identifique quais mensagens da infância ainda influenciam sua forma de se comunicar e questione sua validade.
- Pratique a autoexpressão: comece a se posicionar em pequenas situações do dia a dia, seja dando sua opinião em uma conversa ou dizendo “não” quando necessário.
- Fortaleça sua rede de apoio: estar cercado de pessoas que valorizam sua opinião e te incentivam a falar faz toda a diferença.
- Busque autoconhecimento: terapia, livros e grupos de discussão podem ajudar a entender como o silenciamento afetou sua trajetória.
- Celebre pequenas vitórias: cada passo na direção de se expressar com mais confiança deve ser valorizado.
O mais importante é lembrar que sua voz tem valor. Ninguém deve se sentir pequeno ou invisível dentro de seus próprios pensamentos e sentimentos.
Conclusão: sua voz importa, não se cale
A forma como aprendemos a nos calar na infância pode ter impactos profundos na vida adulta, mas isso não significa que estamos condenados a esse silêncio para sempre. Reaprender a se expressar e se posicionar é um processo de libertação e autoconhecimento.
Se em algum momento da sua vida você sentiu que sua voz foi silenciada, saiba que há espaço para recuperá-la. Você merece ser ouvido e respeitado. Sua voz tem força. Sua opinião importa.